domingo, 10 de julho de 2011

Saudade S/A

Saudoso, me vi atrevido ao pensar em escrever sobre saudade.


Não que eu não entenda do assunto, pois, essa tal saudade me faz companhia desde quando ainda se quer entendia por gente.

Mas enquanto ‘escritor’, (é entre aspa mesmo, pois estou muito longe disso), veja se não é atrevimento parar e tentar escrever algo sobre um tema que pessoas como Machado de Assis, Pablo Neruda, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Clarisse Lispector, Martha Medeiros, Mário Quintana entre tantos outros, já voltaram suas atenções. (?)

Poderia eu, então, conter-me à um mosaico de citações utilizando as frases de alguns dos já citados escritores. Mas não, atrevimento é outra coisa que me faz companhia desde muito tempo, assim como a saudade.

Saudade - s.f. Recordação suave e melancólica de pessoa ausente, local ou coisa distante, que se deseja voltar a ver ou possuir.

Resumindo, saudade é a ausência de algo ou alguém que já esteve presente, e que se dependesse de nós, ainda estaria.

Sendo assim, como não me classificar como bom entendedor desse assunto, já que vivo constantemente “acompanhando” pela ausência de pessoas e lugares que queria próximos a mim.

Saudade é pra quem tem. Assim sendo, é pra mim, pois eu tenho. Saudade de muitas coisas, de muitos lugares, de muitas pessoas.

Não seria capaz de escrever uma crônica sobre esse assunto, pois sinto falta de tanta coisa desde tanto tempo, que não lembraria a ordem cronológica das coisas.

O pai que se foi. A infância que não volta mais. Aquele biscoito que não vende mais, aquele desenho animado que saiu do ar. Saudade, crônica.

Aquele bate papo no bicicletário da escola ou na escada de casa. Ah, a época daqueles cabelos avermelhados e que o Rio de Janeiro continuava lindo. Aquele luau na terra batida. Aquele ponto de encontro na pracinha ou na esquina. Ah, a época em que dizia “vou para” e não “voltarei para”. Ah, os meus amigos.

As vezes me pergunto: Os meus amigos, onde estão?(...) Longes e distantes, até mesmo os novos que fiz. Essa situação reforça o que disse François La Rochefoucauld quando escreveu que A ausência apaga as pequenas paixões e fortalece as grandes. Ah, os meus amigos.

Ah, aquele “Deus te abençoe meu filho”, e aquele “vem comer enquanto está quente”. De fato, como diria Martha Medeiros... Saudade a gente tem é dos pedaços de nós que ficam pelo caminho.

Ah, a saudade. Eu seria mesmo muito abusado se parasse pra escrever sobre a tal, mesmo entendendo do assunto, e não usasse de tantas citações, de grandes gênios da literatura.

Então, pra terminar em alto nível, uma mistura de Guimarães Rosa¹, Nietzsche² e Camões³, transformando três frases, em algo que eu gostaria de dizer e acho que não acharia palavras melhores.

Saudade é ser, depois de ter¹. Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoa. Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia², pois a verdadeira afeição na longa ausência se prova³.