segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Viver sem perder a capacidade de sonhar

Essa noite eu sonhei com você.

Calma, não se assuste. Eu também sonhei com ela.

Sonhei com você, com ela, comigo, com um quarto de dormir e curiosamente, nesse quarto de dormir também havia uma janela lateral.

De lá, nós víamos um sinal de glória, mas não era de uma igreja, e sim de uma bela paisagem, onde não haviam muros brancos, porém uma infinidade de cores em árvores, céu, nuvens e flores. Voos de pássaros? Sim, lá estavam eles, voando, mostrando toda a liberdade para aqueles que da janela lateral do quarto de dormir admiravam as cores vibrantes, os raios de sol e muito provavelmente se sentiam felizes com a agradável companhia.

Enquanto dormia, o sonho se resumiu a isso, mas acordado, foi muito além. Transformei o sonho em um sonho, dei asas à imaginação e ela foi voar mais alto do que os pássaros da paisagem.

Como não sabia exatamente onde ficava a casa do tal quarto que tinha uma janela lateral, imaginei então uma casa grande, porém, inocente em um ranchinho a beira chão. Bem ao estilo casa no campo, rede na varanda, fogo baixo aceso fogão de lenha. Ao fundo, um pomar onde as aves cantavam, um cercado para apartar os bezerros, as vaquinhas leiteiras e um burrão. Um coberto para guardar um pilão.

Já que a casa era grande, nós estávamos acordados, com a janela lateral do quarto de dormir aberta, um fogão de lenha aceso e o sonho era meu, resolvi convidar mais gente. Família e amigos a vontade, por que sonho de vida que se preze tem que ter todo mundo reunido. A mulherada com mais experiência de vida (não quero usar a palavra “velha”) as voltas com a comidaria, tudo em fartura e o restante curtindo o som da viola e da sanfona que até eu mesmo tocava. Lá, a viola tocava alto nos peitos humanos e era um bom remédio para qualquer desengano e mesmo quando a viola parava, continuávamos escutando a melodia da passarada que não parava de cantar, o gado berrando, uma sinfonia de pardais e em um tom mais destacado, o sabiá cantava, no alto de um jequitibá.

Podíamos ser todos da cidade, mas lá estávamos sorrindo, brincando, comendo, vivendo sem ter algo exclusivo para ninguém, no campo, no meio do mato, só pensando em estarmos bem. Só pensando na paz que era visível por todos os cantos, seguindo por toda extensão de um regato que cortava a campina até o deságüe em uma lagoa com água cristalina. A paz só era interrompida pela nossa festança que tinha dança, farta comida e as melhores companhias.

Tem mais gente de passagem? Abra a porteira, se achegue e conforme for, fique pra pernoitar. Aqui a gente é boa e hospitaleira. Tem comida a vontade e moda boa pra tocar. Moda ligeira aqui é uma doideira, assanha o povo e faz todo mundo dançar, mas também tem moda lenta, que faz sonhar.

Eu fui falar em sonho, que pena. Isso me fez lembrar que tudo não passou de um sonho. Mas eta trem bão que tava por lá. Nem vontade deu de pra vida real voltar. Mas aqui o relógio anda ligeiro e eu ainda tenho um dia inteiro para enfrentar. Mas fica a expectativa da chegada da noite com mais sonhos tranquilos e do dia em que esse sonho irá se realizar.

3 comentários:

  1. Esse lugar se parece muito com a minha casa. Tem pilão, rede, varanda, fogão à lenha, "muierada" falando, galinha, porco, moda de viola... faltou só o burro manso e as vacas leiteiras...

    Belo texto!

    Sabia que nem o vi como sonho...

    Abraço!

    ResponderExcluir
  2. Adorei o lugar!!!

    Saiba que também sonho muito com um lugar assim para viver, na mais completa simplicidade de uma vida que me realize plenamente.

    Obs: com excecão das galinhas no pomar -que morro de medo delas- gostaria de ter sido convidada para a festa!
    Bjuss,

    ResponderExcluir
  3. esse texto me lembrou muito meu fim de semana...
    essa paz, essa folia, essa simplicidade...
    se todos os dias fossem assim, seria tão mais leve e mais fácil!

    ainda bem que dá pra fugir pra um lugar assim vez enquando...

    belo texto Thi, como todos os outros aqui..
    =)

    ResponderExcluir